O Radiohead em apresentação no Festival Glastonburry 2011

Gravadora: XL
[rating:4.5]

Acredito que muitos jornalistas e críticos de música, se pudessem, reavaliariam o disco The King of Limbs, do Radiohead. Quando foi lançado de forma abrupta, muitos se apressaram em tentar decifrar com poucas audições o que seria do tão misterioso disco de uma das maiores bandas de rock em atividade. Uns acharam eletrônico demais, outros acharam estupendo, outros, ainda, demasiadamente esquisito para ser ambientado em 2011. Enfim, é o Radiohead…

The King of Limbs parece transpor todas as experimentações musicais pós-anos 2000 ao centro do mundo: a África. O Radiohead atinge um som tribal e, ao mesmo tempo, denso, sem perder suas características

Eu mesmo cometi um desses erros, chegando a acusar algumas canções de chatas sem uma avaliação consistente. Por isso, vi que havia necessidade dessa segunda crítica. De início, “Bloom” segue com uma introdução que cria uma estranha conexão entre dubstep, drum’n bass e synth pop. O baixo entra em colapso com toda a velocidade da bateria, que recria uma espécie de slow motion do jazz com bastante carga percussiva de um afro-beat degenerado.

“Morning Mr. Magpie” segue como um velociraptor musical com uma certa ironia no ar: a letra fala que o tal Mr. Magpie raptou toda a mágica de sua melodia. Ainda que ela pareça crua, os poucos efeitos mostram um diálogo da música eletrônica (mais uma vez) com percussões. Os vocais de Thom Yorke parecem querer se libertar daquela amarra contida que atingiu a aura melancólica em discos como Kid A e Amnesiac; aqui, ele tenta entrar em um clima trilha de madrugada bem mais informal.

The King of Limbs, em alguns momentos, parece ter um aspecto tribal muito denso, como se o Radiohead quisesse levar todas essas experimentações da música pós-anos 2000 ao centro do mundo: a África. Tudo bem que o continente não é objetivamente representado em suas letras. Só que algumas características entram em similaridade: as composições são mais descompromissadas, o som está mais dançante, o baixo ferve em alguns momentos, as percussões se impõem como a grande novidade… Basta ouvir “Feral”, um dubstep à lá Congo com experimentações vocais bem esquisitas. É como se o Radiohead sentisse que deveria dialogar com essa crueza selvagem, que fica evidente logo na capa do disco.

Nessa selva, o Radiohead recria a trilha sonora ideal e ressurge como se tivesse morado dentro dela por anos, só que sem perder a sua originalidade. Em “Lotus Flower”, por exemplo, Yorke traz uma referência, digamos, botânica (‘tem um espaço vazio dentro do meu coração/onde a maconha finca raiz’) para exemplificar a densidade de um sentimento que desabrocha como uma flor de lótus. Mas há também momentos em que o Radiohead parece querer frear o ouvinte para incursões mais reflexivas, que vêm na sequência de “Codex” e “Give Up the Ghost”.

“Separator”, a última e uma das mais belas do disco, dá um desfecho bem sugestivo (‘se você acha que acabou, está enganado’) colocando um sentido em toda essa selva – por mais abstrato que esse sentido possa ser. Ou um ‘longo e cansativo sonho’, onde há ‘as flores mais doces e as frutas podem ser pegas das árvores’. Seria um Éden, uma ilha de Lost customizada pelo Radiohead, uma selva africana, um retorno ao centro do mundo? Esta última faixa só faz crescer as incertezas. Incertezas que saem do imaginário musical para a vida real: qual será o próximo passo do Radiohead? (Sei que há os remixes do álbum inteiro, mas será ‘apenas’ isso mesmo?)

Ouça abaixo The King of Limbs na íntegra:

Melhores Faixas: “Bloom”, “Morning Mr. Magpie”, “Feral”, “Lotus Flower” e “Separator”.