Criolo em foto de Teca Pasqua
Gravadora: Oloko Records
Um divisor de águas no rap nacional. É assim que poderia ser definido o novo álbum de Criolo que, apesar de já ter sido lançado há um tempo, permanece como um dos melhores lançamentos fonográficos do ano. Em pouco mais de 38 minutos, o rapper da zona sul paulistana (mais precisamente Grajau) vai do brega ao dub, passando pelo samba, reggae, afro-beat, soul, samba-canção e até mesmo um flerte com a música clássica.
Criolo deixou de ser Doido e apostou na sua potência vocal cantada. E registrou uma obra-prima de qualidade elevadíssima
E tudo isso aí se encaixa no rap nacional. Vale deixar claro que é a temática e a tonalidade das canções que dão imersão ao rap. Assim como “Subirusdoistiozin”, que ambienta um fim de balada noturna em um soul com toques jazzísticos e scratches que fazem uma intersecção entre música de salão e um jazz cantado. Ou mesmo na ode “Não Existe Amor em SP”, com citações de grafite, labirintos, frases, postal, drogas. Todo esse jogo de palavras faz o rap nacional elevar de um gênero musical para um conceito, e é justamente essa a maior colaboração de Nó na Orelha.
Daniel Ganjaman assina uma produção impecável, que realmente só faria sentido para um rapper como Criolo, que deixou de ser Doido para apostar em sua potência vocal cantada. Ainda que os trombones de Bocato ou a colaboração de ilustres como Kiko Dinucci realmente pesem em Nó na Orelha, é fácil perceber que Criolo criou uma obra-prima de longe.
Outro ritmo bastante explorado por ele é o afro-beat. Criolo se joga na dança da capoeira em “Mariô” com múltiplas referências baianas e do candomblé, exibindo as raízes de todos os gêneros que explora no disco.
A primeira faixa, “Bogotá”, também segue pelas vias de Fela Kuti, com trumpetes e percussões fervendo a todo vapor enquanto o rapper fala de bugigangas e muambas. Ele se põe no lugar de um nômade da periferia que decide cruzar a Transamazônica com sua querida para “esquecer a dor, pois a ilusão é doce como mel”. E sempre vem aquela referência às drogas: “Todo mundo sabe o preço do papel/quem tem e de onde vem”. Papel, no caso, seria a cocaína.
Nó na Orelha poderia ser considerado um salto alto demais se não fosse conduzido por um rapper experiente, que há mais de 20 anos está envolvido com rimas. Ele sugeriu esse casamento com a música popular brasileira de qualidade elevadíssima e, com tudo isso, ganha o rap, ganha a MPB e ganha o público, que pode se deliciar com um dos melhores álbuns nacionais em muitos anos.
Ouça abaixo o álbum na íntegra. Para fazer o download, visite a página oficial de Criolo.
Melhores Faixas: “Subirusdoistiozin”, “Não Existe Amor em SP”, “Mariô”, “Grajauex”, “Linha de Frente”